Pouco antes da fundação do Centro de Formação, o livro Los sistemas de escritura en el desarrollo del niño, de Emilia Ferreiro e Ana Teberosky, publicado no México, revolucionava as concepções sobre alfabetização. A repercussão chegou ao conhecimento das fundadoras do Centro, que iniciaram um grupo de estudos a partir de fotocópias. A obra ainda não estava disponível no Brasil, mas sua relevância impunha urgências. Não era possível esperar!

Grandes pesquisas, em geral, são fruto do trabalho coletivo de grandes equipes, e este também foi o caso. Os estudos publicados por Ferreiro e Teberosky foram produzidos em colaboração com  Ana María Kaufman, Alicia Lenzi, Liliana Tolchinski e Susana Fernández.

Foi, portanto, por meio da investigação sobre a psicogênese da escrita que o Centro de Formação e Ana María Kaufman se aproximaram. Década após década, essa aproximação evoluiu para uma parceria sólida. Até hoje, Ana María permanece como uma de nossas grandes referências.

Quando convidada a contribuir com o livro 30 olhares para o futuro, Ana María Kaufman discorreu  sobre processos de avaliação. Quinze anos depois, na celebração de nossos 45 anos, ela retornou ao Centro para lançar um livro, proferir uma conferência, assessorar as escolas Bioma e, claro, lançar um novo olhar para o futuro, inaugurando em grande estilo esta seção comemorativa do nosso site.

O livro Gêneros orais e escritos na escola, de Joaquim Dolz e Bernard Schneuwly, traduzido e organizado por Glaís Cordeiro e Roxane Rojo, foi uma obra fundamental para os avanços nos currículos e nas práticas de ensino no campo da educação linguística escolar. 

Publicado há mais de 20 anos, o livro introduziu  uma abordagem inovadora para a época, ao tratar os gêneros textuais como objetos didáticos centrais, propondo a utilização da sequência didática como instrumento mediador para o desenvolvimento da competência discursiva e textual dos alunos. Gêneros que eram usados na vida real, mas não ensinados na escola, passam a figurar nos currículos, reduzindo a distância entre as práticas sociais e as aprendizagens que se constroem na escola. 

Essa perspectiva contribuiu para uma organização sistemática do ensino da língua materna, integrando leitura, análise e produção textual em contextos sociais reais, o que fortalece a aprendizagem significativa e contextualizada. 

Bernard Schneuwly e Glaís Cordeiro são professores da Universidade de Genebra, e foi de lá que eles se conectaram com o Centro de Formação para compartilhar seus projetos atuais. 

Em 2002, Teresa Colomer veio a São Paulo, a convite do Centro de Formação da Vila, para lançar Ensinar a ler, ensinar a compreender, livro escrito em parceria com a professora  Anna Camps. Desde então, ela se tornou uma de referência para o nosso traballho. 

Foi com ela que aprendemos a diferença entre ensino de literatura e educação literária. Foi com ela que entendemos nosso papel na formação de comunidades de leitores. Ela nos dizia que o leitor lê como o pescador pesca; que o leitor fala de livros, como o pescador fala de varas e anzóis com outros participantes de sua comunidade de pescadores - comparação que não envelhece nunca e que está ainda tão presente nos nossos cursos. Ela nos guiou no refinamento de nossas práticas de discussão literária. E cada livro seu que chega ao mercado é objeto de estudo na nossa comunidade educativa. 

Convidamos Teresa Colomer para nos atualizar sobre suas pesquisas e para, mais uma vez, nos inspirar na construção de um futuro em que todos e todas possam “andar entre livros”, com segurança, equidade e aquele prazer que pode vir da fruição, do esforço e até do incômodo. Isso também aprendemos com ela!